quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

chegou o dia!





VOCACIONAL LITERATURA | Lançamento

Neste sábado é o lançamento da publicação do Vocacional Literatura na OLIDO! Há quatro textos da Nuto Sant'Anna no zine: de Mayra Guanaes, Maricy Montenegro, Anderson Oliveira e Samira Esteter. Cola lá!

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

poesia na biblioteca de são paulo

Antes que o ano acabe, faço aqui um convite aos meus vocacionados, parceiros de trabalho e escrita - e a mais quem queira falar de escrita.

Nessa quarta, dia 9, às 18h, falarei de poesia, ao lado de Kiko Rieser, na Biblioteca de São Paulo. A ideia é partir dos nossos livros, "Lapsos" e "Cartográfico", que receberam um ProAC de Criação Literária no ano passado e estão em fase de finalização. 

A mediação será do poeta Frederico Barbosa.
 

Se puderem, apareçam! 

Carla Kinzo
A.O. de Literatura | Bibliotecas Nuto Sant'Anna e Padre José de Anchieta

sábado, 5 de dezembro de 2015

atos cultivados



ATOS CULTIVADOS em ação, filmando o áudio do curta "Celina", apresentado hoje na MOSTRA DO VOCACIONAL NA NUTO. O trabalho, resultado de uma pesquisa de dois anos contemplada duas vezes com o VAI, contou com o apoio e orientação da A.O. Talita Caselato, de Artes Visuais e, no final do processo, quando da escritura do texto do curta, com o apoio do Vocacional Literatura e da A.O. Carla Kinzo. O resultado foi um filme sensível, emocionante. Parabéns, pessoal!

Mostra do Vocacional na NUTO



Pedacinho da Mostra de hoje na NUTO...

conto de terror!



"O mistério da casa sufocada", conto de Maricy Montenegro, foi entregue nos envelopes para um "destinatário desconhecido", na Mostra de Artes Visuais e Literatura neste sábado, na Nuto. Se você quer lê-lo, é só procurar aqui no blog!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

nossa publicação ficou pronta!


Ficou linda a publicação do Vocacional Literatura, com textos produzidos pelos vocacionados ao longo deste ano. Nós, da Nuto Sant'Anna, sob orientação da Artista Orientadora Carla Kinzo, participamos com quatro contos: da Samira Esteter, da Maricy Montenegro, da Mayra Guanaes e do Anderson Oliveira. Amanhã, na Mostra do Vocacional na Nuto, podemos contar um pouco mais do processo por que passamos, que resultou (também) nesse zine. Estejam convidados!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015



E no sábado, dia 5/12, antes da Mostra do Vocacional na Nuto: Conversas sobre o Vai! Apareçam!

segunda-feira, 30 de novembro de 2015


Mostra dos processos artísticos realizados na Biblioteca Nuto Sant'Anna ao longo do ano de 2015, através do Projeto Vocacional Artes Visuais e Literatura. Cola lá!


domingo, 22 de novembro de 2015

dia 27/11


Nessa sexta, dia 27, o encontro de Literatura será na Ocupação Teatro Alfredo Mesquita.

Estão todos convidados! Com açúcar e afeto.

domingo com kafka


Gregor Samsa

Quando certa manhã...

Pós-corpo

Pedacinho da exposição

Maricy Montenegro

Algumas fotos da nossa visita  à exposição sobre a Metamorfose, do Kafka, na Casa das Rosas neste domingo. Depois lemos a famosa parábola da lei, dentro do livro O processo, que rendeu uma bela discussão. Marcos Gomes, artista orientador de Literatura da Biblioteca Érico Veríssimo esteve com a gente. 

sábado, 21 de novembro de 2015

De Samira para a Biblioteca Nuto Sant'Anna

Instruções de como olhar as árvores através de uma janela

Quando precisar encontrar um pouco de paz, ou quando precisar desestressar e acalmar o coração, vá a uma biblioteca. Mas tome cuidado, pois não pode ser qualquer uma. Escolha aquela que seja rodeada de árvores. Encontre um banco, ou uma cadeira. Se for do lado de fora, tudo bem. Se for no interior da biblioteca, encontre um assento perto da janela. Mas você me pergunta o porquê de ser em uma biblioteca. Pois bem. Nela há silêncio. Ele e a natureza são a melhor combinação. Depois de se sentar, observe pela janela as árvores. Não se assuste caso alguma folha caia, é normal, o vento as joga longe... Permaneça o tempo que for preciso e quando se sentir preparado, vá para casa, revigorado.

Samira Esteter

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Se a função do sistema é calar, resista!
Se na febre tua mão quer criar, resista!
Essa causa merece atenção, resista!

Feito um grito de libertação, resista!
Contra o domínio em cruéis invasões
Contra os acordo de más intenções
Contra a semente da dor em nosso chão
Resistir: educar, ensinar, conduzir
É plantar, reformar, dividir
É com amor construir uma nação.


Anderson Oliveira

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Instruções para sonhar

Busque um conforto angelical que te deixe sem nenhuma culpa, sem nenhuma preocupação. Em seguida, mentalize suas proezas e suas satisfações. Ao chegar lá, ouça a música e as palavras com gosto. Ria o que tiver que rir, chore o que tiver que chorar, enfureça-se com o que tiver que se enfurecer, ame o que tiver que amar. Em seguida, corra, corra muito para saltar alto e mergulhar profundamente em suas emoções. Ao sair, vá direto e pegue o caminho que te levará a piscar o olho. Em um instante você vai estar em outro lugar, que pode ser sombrio, mas vai passar. Quando estiver curtindo, deixe-se levar para o instante de despertar e, sem pressa, o seu olho se abrirá. Pare então por um instante e respire, levante devagar; volte a mentalizar o que passou, o que viveu e dê um sorriso para quando chegar a noite novamente.

Anderson Oliveira
Instruções para olhar a lua

Ache um lugar com um bom gramado, verdinho e seco. Deite-se com os olhos fechados, depois de garantir que não há formigas. Quando se sentir seguro abra-os e olhe para ela. Redonda e grande. Lá estará ela, a lua. O resto é fácil: apenas fique lá, calmamente e com a alma em paz, sem pensar em nada. Apenas observando. Quando se sentir só, já sabe para onde ir. Ela sempre estará lá, para te fazer companhia. Caso ela não seja encontrada, saiba: há pequenos pontos brilhantes que podem ser olhados, chamados estrelas.

Samira Esteter

viagem ao destino

Jogo a mochila no porta malas. Entro no carro e bato a porta com a gentileza nada sútil que tenho. Só queiro ir embora. Ligo a música o mais alto possível, a trilha sonora da viagem é The Fray. O carro em alta velocidade me levando para nem eu sei aonde. Qualquer lugar está ótimo. Mais alguns kilometros rodados. Um posto de gasolina, melhor parar e ver onde estou. Entro na loja de conveniência.
  Meu passado estava diante de mim. Quanto tempo, que surpresa! Por que ele quer saber aonde estou indo? Não há rumo, como explicar? Envergonhada, penso e respondo rapidamente que estou viajando sem saber para onde.
  Ele sorri. Diz que está fazendo o mesmo e que sentiu saudade. Coincidência? Com o ar zombador de sempre me olha e diz, calmamente ''volte a planejar seu destino comigo''. E é assim que continuou, aliás, que começou o nosso destino.

Samira Esteter

sexta-feira, 13 de novembro de 2015



O Vinícius do "Construtores de histórias" visitando nosso encontro. Em breve, textos nossos no zine deles!


Instruções para ser você

Primeiro verifique se todos os seus hábitos estão no lugar. Aonde você foi ontem, aonde vai hoje, se você passará nos mesmos lugares. Em seguida, verifique se aqueles mesmos pensamentos positivos estão com você e se você está com as mesmas palavras de apoio, conforto e sabedoria para oferecer aos outros. Por último, observe se não esqueceu de alimentar o seu cachorro, de ligar para sua mãe e de saldá-la, de dizer eu te amo para alguém, de encontrar seus amigos e se divertir. De estender a mão a uma outra pessoa que precisar. Caso isso tudo não estiver com você, volte para casa, sente-se no sofá e veja onde você se perdeu de você.

Anderson Oliveira


Instruções para viajar sem pagar nada

Encontre a biblioteca mais próxima, escolha um destino do seu interesse, se direcione para o caixa e compre a passagem. Volte para sua casa e ache o seu assento. Se acomode nele e, então, comece a viagem. Você encontrará os mais diversos tipos de pessoas e culturas. Conhecerá dezenas e centenas de lugares. Se emocionará equanto se aprofunda nas histórias daquele lugar. E ela contém diversas cidades. Os monumentos são bem feitos e pensados. É proibido desembarcar no meio da viagem. Tome um café e continue. Não há como voltar para casa agora. Quando chegar ao final de sua hospedagem, irá adorar tudo o que conheceu, eu garanto.

Samira Esteter

terça-feira, 10 de novembro de 2015


O vestido branco

O grande desastre

As horas estavam passando e os dois continuavam entretidos naquele encontro, sem se preocupar em voltar para o ambiente da festa. Havia uma brincadeira que costumavam brincar apostando que era uma espécie de esconde e esconde e pega- pega. Havia entre os dois uma competição quase infantil para executar aquela brincadeira e Raphael se sentia mais inteligente para realizar aquela tarefa de achar o outro como se fosse um grande detetive. Então ele combinava com Marcelly de ela se esconder primeiro e ele sair caçando ela depois. E para acrescentar graça àquele jogo lúdico, ela costumava fazer sons para tentar confundi-lo naquela caça. Então o desastre aconteceu: Raphael, que se julgava o grande detetive, estava demorando encontrar Marcelly. Não se sabia se era por auto confiança demasiada, ou por dificuldade mesmo. O fato é que os dois se divertiam muito, mas Raphael, sem saber, estava se aproximando  do lugar  onde Marcelly estava se escondendo. percebendo isso, ela planejou ludibriá-lo mais uma vez. Ela o via se aproximar aos poucos e olhou de um lado para o outro, procurando um novo lugar para se esconder. Sua tática se baseava nisso: correr de um lado para o outro para confundi-lo ainda mais, e até mesmo tirar os sapatos e correr em passos suaves naquele jardim e naquele momento se esquecia de se preocupar com toda questão de elegância. Viu então  uma arvore muito grande de um tronco enorme e um perfeito esconderijo para mais uma vez ludibriar o seu primo. Tão empolgada estava que ela não percebeu o quanto estava úmido o gramado e que atrás daquela árvore havia uma poça e, quando percebeu, já estava escorregando e caindo nela e molhando todo o seu lindo vestido branco cor de nuvens.

O choque

O Ambiente daquela festa reunião de família estava animado. Alguns rindo, outros dançando, bebendo  uma gostosa taça de champanhe. Wilson Trever Já ensaiava em fazer um discurso batendo com uma pequena colher em uma taça para chamar a atenção dos convidados. Quando consegui a atenção que queria e já dizendo, “muito bem”, se virou para colocar a mesa, a colher e a taça que estava na mão. Ao se virar de novo para o público, ficou muito impressionado com o silêncio que todos faziam, mas não entendeu o do porquê de todos estarem olhando para a porta do salão. foi quando ele mesmo se assustou com aquela visão.
        Eles estavam lá, os dois, o rapaz e moça, Raphael e Marcelly. Não sabiam como encarar aquele público. Marcelly olhava todos com um semblante carregado de raiva e, ao mesmo tempo, calada. Seu cabelo estava todo molhado, seu vestido, que era branco, ficou com cores marrom e preta de sujeira. seus pés estavam sujos também. O silêncio só foi quebrado pelo berro que Alzira Albuquerque deu:
     ____ Marcelly, o que significa isso? Como você pode fazer isso com um dos seus lindos vestidos, filha? Que situação deplorável. Eu só queria saber de uma coisa, aonde esta o seu pai essa hora?
     ____ Para essa pergunta, mamãe, a resposta é obvia: ele se importa mais com aqueles pacientes da ala de U.T.I do que com a gente.    

Anderson Oliveira

domingo, 8 de novembro de 2015

A invertida

Ele saiu tão confiante enquanto repassava pela milésima vez em sua cabeça o que iria dizer ao seu chefe. Carregava embaixo do braço sua pasta com a mais nova invenção. Era hoje o dia de sua vida, o chefe iria elevar de cargo o funcionário que apresentasse a melhor proposta.
Chegou apressado, não queria se atrasar, logo que passou pela porta percebeu que havia algo errado. Todos estavam com a cara fechada. Curioso, parou perto de seu amigo:
- O que houve aqui?
- Você não soube ?
- O que?
- Não recebeu a mensagem ontem à noite ?
- Estava ocupado, não vi nada.
- Ele faleceu.
- Ele quem?
- Marcelo, nosso chefe.
- É mentira, né?
- Não, o velório será daqui a pouco, por isso a maioria dos funcionários está saindo.
Ele se calou, e junto de seu amigo seguiu para o velório, inconformado.
- Mas e o  cargo ? Ele iria revelar hoje depois das apresentações quem ganharia.
- Como pode pensar nisso agora?
- Ora, me preparei à noite toda na tentativa de fazer a melhor apresentação.
Furioso ao lado do caixão, ele pensava ''não era para esse cara morrer logo hoje! Preciso apresentar meu projeto'' e aproveitando o momento em que ninguém estava perto, se aproximou um pouco mais e começou, ali mesmo, a falar sobre seu projeto.
Ao terminar se sentiu tão orgulhoso por  sua genial ideia que uma pequena lágrima escorreu de seus olhos. Foi se afastando do defunto e viu seu amigo o encarando fixamente.
- Não sabia que você gostava tanto do nosso chefe!
- Eu ? Porque está falando isso?
- Não tente me enganar, vi seus olhos marejados enquanto estava ao lado do caixão.
- Ah! É disso que está falando?
E compreendendo a situação começou a rir do pensamento de seu amigo.
 
Samira Esteter

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Notícia bacana do Vocacional Literatura: teremos uma publicação com os textos dos vocacionados no fim do ano! Daqui da Nuto, participaremos com textos da Mayra, da Samira, do Anderson e da Maricy. Mais notícias em breve...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Misteriosos assasinatos
A casa parecia sufocada pelas árvores enormes que encobriam o telhado, pelo mato alto que não deixava passagem e pelo cheiro forte e fétido que exalava. Os gatos, entretanto, não se importavam entrando e saído, subindo e descendo, miando e ronronando, se espreguiçando e bocejando como se vivessem em um palacete.
O certo é que não eram os únicos moradores daquela casa. Os outros habitantes raramente eram vistos e quando apareciam estavam mortos, só os cadáveres espalhados pela sala, pelos quartos, pelo jardim.
A dona da casa, uma jovem solitária, mas não tão solitária assim. Muitos animais viviam por ali. Contudo os gatos eram sua companhia preferida. Saia todas as manhãs bem cedo, não se sabe para onde. Voltava ao entardecer e passava até altas horas acariciando os felinos e contando e recolhendo os cadáveres. A mais nada se dedicava. De tal modo que a casa permanecia muito suja, camadas e camadas de pó sobre o chão, acumuladas sobre os móveis, cutão embolado nos cantos. Traças penduradas em seus casulos pelo teto. Aranhas desciam e subiam pelas paredes com suas teias espalhadas pelos armários, embaixo dos móveis. Lagartixas tranquilas saiam de trás dos quadros e das cortinas empoeiradas. Longas trilhas de formigas trabalhavam livres pela cozinha, subiam na pia repleta de louça suja, no fogão grudento, ao redor da geladeira e por vezes atacavam a ração dos felinos. Mosquitinhos se refestelavam com as bananas apodrecidas em uma espécie de fruteira.
A jovem depois de, cuidadosamente, um a um, acariciar o pelo de seus animais preferidos recolhia e contava os cadáveres: -  Hoje foram três. Se todos os dias os menos três forem mortos, por semana serão vinte e um, por mês noventa, e por ano dois mil oitocentos e noventa e cinco a menos no planeta.
Ela tinha ódio desses seres. Sentia um regozijo com a morte deles. Cavou um buraco enorme no fundo do quintal onde os enterrava diariamente.
 Uma certa noite ela não dormiu tamanha a euforia que ficou com a quantidade enorme de cadáveres recolhidos.
Como morriam? Ah! Preciso dizer! E os assassinos? Eram seus gatos. Depois de desferirem várias patadas deixavam os ali no local do crime, como um troféu e um presente de gratidão.
A jovem encontrava os presentes de seus felinos depois de uma espécie de caça ao tesouro.  Um tesouro dentro de uma gaveta esquecida aberta, outro embaixo da geladeira, outro atrás das plantas...
Estes seres não se deixavam morrer assim tão fácil. Possuem táticas, se fingem de mortos, ficam paralisados esperando que o inimigo se afaste. Os gatos, esperteza ancestral, atentos, ao mínimo movimento atacam novamente até que uma gosma branca confirme o óbito.

Maricy Montenegro 


Empatia

Um dia como todos os outros em que abrimos o facebook e quem nos convida para entrar e tomar um café são as notícias do dia. O grande assunto desse dia no meu feed de notícias era o massacre que professores e professoras da rede estadual do Paraná sofreram por parte da polícia. Muitos compartilhamentos de imagens e vídeos que não deixavam dúvidas: professoras e professores sofrendo repressão ao protestar pelos seus direitos. Nesse dia a minha fúria não cabia em mim e eu desci reclamando até a recepção. Ele, que até então não sabíamos de que lado estava, sutilmente se posicionou e me disse sorrindo:
- Você tem cara de quem corre da polícia.
E eu pensei que quando se sabe que em alguns momentos temos que correr da polícia e não contar com a ajuda dela é porque se tem alguma consciência da sociedade em que vivemos.
Eu sorri e disse:
- Corro mesmo.
Mayra Guanaes

quarta-feira, 21 de outubro de 2015


Ode ao menino Aylan Kurdi e a La Fontaine

Crise, crise, crise, crise.
Inflação, corrupção, desemprego,
Imigração, seca, inundação,
Explosão, assalto, bomba,
Destruição, poluição, lixão,
Terremoto, extermínio, multa,
Enchente, manifestação, homicídio,
Refugiados, intolerância, desespero.
Deus, Deus, onde estás que não respondes?
E minha vida em nada mudou.
Tenho medo!
Meu corpo treme,
Não sou eu quem treme,
Não me pertenço.
Pertenço a uma nação.
Cidadão?
E minha vida em nada mudou.
Notícias, fotos, notícias, fotos, notícias, fotos...
Cadê a canoa que estava aqui?
A canoa virou por deixá-la virar...
Foi por causa do menino que não soube remar...
Cadê o menino?
Se afogou no mar.
Cadê o seu povo?
Fugiu do lugar.
E minha vida em nada mudou.
Meu corpo treme,
Não sou eu quem treme.
Não me pertenço.
Oh, La Fontaine! Você que é mais forte que o sol
Que derrete a neve,
Mais forte que todos os muros
E todos os mares,
Mais forte que o rato
Que rói o homem e seus dólares,
Mais forte que o leão e a instituição,
Que a coruja, a cigarra e a formiga,
Mais forte que o vento e a morte
E não escreveu esta história.
Desprende o meu pezinho?

Maricy Montenegro, setembro 2015



domingo, 18 de outubro de 2015



Fotografias da vida (O sapatinho)
O conto 
Ela está toda arrumada,  esta toda enfeitada, vestido novo, laço de fita na cabeça e uma leve maquiagem no rosto. Mas faltava alguma coisa. Olhou para um lado, olhou para o outro, olhou sua cama toda bagunçada com aquele monte de roupa sobre a cama e deu um leve sorriso. Balançou a cabeça, lembrando-se do evento daquela noite. Era algo especial, afinal era a festa de entrega do diploma do ginásio e todo mundo do colégio estaria lá, inclusive seus amigos. Então mais uma vez se olhou no espelho se examinou com extrema atenção. Ficou analisando se faltava alguma coisa. Então disse para si mesma: “chega Alice, você vai arrasar e hoje que o Fabinho te pede em namoro! E a Maria Eunice vai morrer de inveja!” Logo depois, voltou a procurar o que estava procurando: um sapatinho dado  por sua avó Ana. As duas tinham uma forte relação e eram grandes amigas. Foi então que ela lembrou onde tinha guardado a caixa de sapatos. Estava na parte inferior de seu guarda roupa.  Alice foi pegá-los, mas percebeu que eles estavam apertados em seus pés. E agora? O que fazer? Em suas indagações, Alice pensava: era um presente de sua avó Ana, que era sua melhor amiga da qual ela partilhava todos os seus sonhos, medos e segredos, e o sapato era bonitinho, combina com aquele vestido e era o toque final para o seu visual, mas era apertado e poderia causar bolhas em seu calcanhar. O que fazer? Ela respirou fundo e... Decidiu. Se para trilhar o caminho da glória fosse necessário alguns sacrifícios, martírios,  que pagasse o preço que tivesse que pagar. Então sapatinho, é eu e você, você eu, nessa noite gloriosa, esplendorosa. Há há há . Não vai ter para ninguém. E deitou o corpo na cama em uma gargalhada gostosa. Então olhou para o relógio e viu que a hora estava passando, precisava estar pronta. Pegou sua bolsa, colocou o papel com as palavras que escreveu para dizer na hora de receber o diploma e deu uma última olhada no espelho. E disse: “você é demais”. E saiu apagando as luzes, fechando a porta do quarto. Afinal aquela seria uma noite de extraordinários acontecimentos.

Mini-conto
Ela estava ansiosa quando chegou para se despedir dos seus pais, afinal não queria que nada desse errado. E logo após combinar a qual hora eles voltariam para buscá-la, esperou por um minuto até o momento que eles entrassem no carro. Deu um longo suspiro e se virou a caminhar com uma planejada elegância. Ao entrar, se deslumbrou com toda a organização, com todos os enfeites daquele salão e concluiu que estava digno de uma noite de gala. E de fato todos estavam lá, seus amigos, admiradores, desafetos e pretendentes. E sem faltar também eles, os sapatinhos: o maior símbolo de toda aquela elegância. Mesmo apertados, eles estavam lá, cumprindo o seu papel, onde mais tarde haveria o seu verdadeiro encontro inevitável, com as bolhas e as fotografias.

   Micro-conto
A festa ia noite a fora ao som de Whisky a Go Go – a banda tocava com empolgação e ela se sentindo toda elegante, atraente, arrasando. Mas no rosto, um olhar vacilante, refletindo um  falso contente. Ah aqueles sapatos lindos, mas tão apertados!


Anderson da Silva Oliveira

domingo, 11 de outubro de 2015

Um gole de esquecimento


Conto 
Acordei cedo aquele dia, ou melhor dizendo, não dormi. A noite anterior ainda em minha cabeça. Lembro-me de sair mais cedo do trabalho, não me lembro de como fui parar lá. Era para ser um café, um gole, um pão de queijo, por favor.
Ela entrou, não me veja, não me veja, já estava vindo em minha direção. Não há porta aqui atrás, não tem como correr, já está perto. E agora? Parou em minha frente e sorriu.
Quanto tempo, tantos anos. Já sentou. Tudo bem. Tudo ótimo. Ela vai de café também. Por que está aqui? Emprego novo. Está noiva. Que ótimo. Aquele cara da escola. Já apanhei dele.  Odeio ele. Parou de fumar. Está magra. Não quero falar sobre mim. Não pergunta. Ela insiste. Deixa pra lá. Não há nada para falar. Devo ir. Adeus. Não quero voltar a te ver.
Uma vodca. Um gole, dois goles. Mais uma, por favor. Virei tudo. Tanto tempo que vivi de saudade. E agora? Virei outra. Decepção. Ela me viu acabado. Quero outra. Vou embora. Está chovendo. Uma tempestade. Parece comigo por dentro. Vou ficar mais um pouco. Outro gole.
Ela não me quis mais. Aquele fim. Faz tanto tempo. Outra vodca. Obrigado. Bebi saudade à espera dela. Ela nunca voltou. Está feliz. Eu nem tanto. Um gole. E adormeci.

Mini-conto
Acordei me lembrando da noite passada. Fui a um bar/lanchonete após o trabalho. Era para relaxar e tomar um café.
Não tardou alguém entrar pela porta: era ela, estava mais magra, bela como sempre. Me viu e veio correndo se sentar.
Falou sobre sua vida, não falei quase nada sobre a minha. Coincidência ela estar noiva de um carinha da escola que eu odiava.
Ela se foi embora feliz, e eu fiquei, fiquei lá bebendo enquanto chovia. Uma decepção encontrá-la tão bem depois de me deixar. E assim adormeci, relembrando a noite anterior.

Micro-conto
Encontro com a saudade no bar.

Samira Esteter


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Só clichês


Nancy conheceu um garoto no colégio. Bom aluno, estudioso, era até um dos membros do clube de xadrez. Ninguém imaginaria tal desfecho. Herman, o garoto, convidou Nancy para um passeio. Tomar um ponche numa festa na garagem, ouvir o Abbey Road, último disco dos Beatles. Deu tudo certo, no final, antes de entrar em casa se despediram com um beijo tímido.
Mas ao acordar no dia seguinte, Nancy teve uma surpresa ao lembrar do que havia sonhado na última noite: Era uma casa na colina. Podia ouvir a família dormindo e roncando. Ouve um barulho. 3 rapazes entram encapuzados nessa casa mas era como se Nancy não estivesse lá, não fizesse parte da cena. "3 homens assassinam família à machadas" era a manchete do jornal, que como um flash interrompe a cena que acontece no sonho de Nancy.
No dia seguinte, Nancy liga para Herman, e este não atende. Pensa: É melhor espera-lo ligar - mas dois dias se passam e Hernan não liga. Nancy vai até a casa dele. Sabia onde Herman morava, era uma colina mas até então, Nancy não havia notado a coincidência. Um silêncio tenebroso pairava sobre o ar. Nancy tentou apelar para os outros sentidos: apurou o olhar para ver se avistava algo estranho mais à frente. E até teria respirado fundo para tentar perceber se sentia um cheiro diferente ali. Mas Nancy não sentia cheiro nenhum, sua mãe quando grávida havia tomado muitas doses de Dramin e isso afetou o olfato de Nancy.
Caminhando até a casa, Nancy ficava apreensiva e ao chegar percebe que a porta estava arrombada. Ligou para a guarda local mas sua curiosidade levou a melhor. Passou pela porta e entrou na casa. Sentiu um cheiro e ficou surpresa. Pela primeira vez sentiu essa sensação. Um cheiro! Reconheceu essa sensação.
Os garotos maldosos chamavam Nancy de nariz de fenda mas com suas amigas, Nancy podia desabafar e elas até descreviam como era cheirar.
Nancy sentiu um cheiro de carniça e ouviu um zumbido de moscas vindo do quarto. Era um cheiro de morte e o que repousava sob as moscas era o corpo de Herman, mas Nancy não havia percebido que ele fazia parte do sonho na noite anterior.

Mayra Guanaes

terça-feira, 6 de outubro de 2015

ovo frito

Alô!
Alô, está ocupada?
Depende. O que quer falar?
Sobre minha mãe.
Mas sequer gosto dela - despejei o óleo.
Ela é sua sogra, deveria gostar. Vou visitá-la.
Tá. Liguei o gás.
Irei agora.
Mas assim, do nada? Quebrei a casca.
Vem comigo, vou pegar o trem às 13h.
Não almocei ainda.
Come algo no caminho.
Sabe que eu não consigo sair sem comer, fico mal-humorada.
Não sabia disso.
Hum.
Vem comigo.
Não vou.
Por que?
Não quero.
Você não se importa com nada!
Claro que me importo. Estava queimando.
Eu cansei.
Do que você está falando? Ele gritava e o ovo queimava. Não conseguia tirá-lo da frigideira e conversar ao mesmo tempo.
Cansei do seu fingimento, terminamos aqui.
O ovo que estava na espátula caiu, queimado. Olhei desapontada.

Lá se foi o ovo, lá se foi o almoço, lá se foi o namoro e eu não me importava.

Não tem problema. Estava sem sal mesmo.

Samira Esteter

quinta-feira, 1 de outubro de 2015


E agora?
____ E agora? O que dizer? Só sei que somos independentes, cara. Cada um com o seu caminho, cada um com seus medos, desejos e alegrias. Você agora não sou eu. E nem eu sou você. Veja bem: você é você e eu sou eu. Somos pessoas diferentes. Tanto no físico, quanto no psíquico, podemos ser a mesma pessoa, mas nossa essência agora é diferente.
____ Você entende que temos caminhos diferentes a seguir? Entende que também temos que nos diferenciar em nossas formas de se vestir, nossas formas de agir, de falar, nossa própria personalidade? Vai ter que se diferenciar, você entende isso? E vou te dizer novamente, para que você entenda de vez, mas é só agora e eu não vou dizer mais. Você agora tem a sua própria identidade, personalidade e eu a minha, pois agora o espelho se quebrou e você tem que buscar o seu caminho, que eu vou continuar o meu. Pois você é você, e eu sou eu.
_____ Sei,  entendi, mas eu tenho uma pergunta:
_____ Então diga, eu sou só ouvidos.
_____ E tudo que almejamos? Nossos objetivos... Iremos atrás das mesmas coisas? E até mesmo aquela....
_____ Paixão?
_____ É isso. Você sabe do que estou falando. Você irá atrás dela?
_____ Sim, por quê?
_____ Desculpa, mas é que esse sentimento também é meu e irei atrás dela.
______ É mesmo. Presunçoso você, hein. Mas tenha certeza de uma coisa, meu caro novo ser, atrás dela você não irá, atrás dela eu é que sempre estarei. Você sabe que foram tantos amores que o que te resta é... ir atrás de um novo amor. Afinal é um mundo novo que você tem a descobrir.
_____ Sei, sei... mas você sabe o quanto foi doloroso, o quanto você sofreu com essas paixões... O nosso  é... O seu... É... Sei lá. Só sei que o seu coração foi de uma alma romântica.
______ Sinceramente, eu não sei. Busque então outro amor, sei que você irá encontrar. Você sempre esteve disposto a isso, e isso sempre te renovou, te deu novas esperanças. Tenho fé em você.


Anderson da Silva Oliveira

terça-feira, 29 de setembro de 2015

poema objeto




A Maricy Montenegro transformou texto em imagem. 
Neste sábado, ela o leu na Praça Benedito Calixto, passando, uma vez mais, sua poesia para um novo suporte: seu corpo. 
Aqui, registramos um pedacinho de seu trabalho no papel.

palavração na alceu amoroso lima!





Neste sábado o Vocacional Literatura armou o Palavração na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, para discutirmos coletivamente textos em processo. Foi muito bacana! Algumas fotos das leituras no cair da tarde, antes de atravessarmos a rua para ocupar com poesia o Espaço Plínio Marcos, na Praça Benedito Calixto.
Betoneira

Há operários trabalhando naquela construção,
todo dia eles fazem tudo igual,
acordam 5 da manhã
e tomam café
tomam o trem
tomam o busão

os operários daquela construção

só ás nove e meia chegam para trabalhar
porque moram longe da construção
quando chegam é a hora do café
o seu segundo café com pão

do dia
de todos os dias

Depois preparam o cimento
Vão erguer mais alguns andares
daquele prédio que tá sendo construído,
longe do chão,
perto dos ares

Todo dia aquele prédio ganha mais um  novo andar.
o trabalho fica perto de acabar
Todo dia é tudo sempre igual
eles trabalham na construção
quando estão bem,
quando estão mal

É como se fosse a máquina de misturar cimento
que faz um movimento
de um jeito circular
sempre começando e terminando ao mesmo tempo,

fazendo um círculo
sempre no mesmo lugar.

Mayra Guanaes