Conto
Acordei cedo aquele dia, ou melhor dizendo, não dormi. A noite anterior ainda em minha cabeça.
Lembro-me de sair mais cedo do trabalho, não me lembro de como fui parar
lá. Era para ser um café, um gole, um pão de queijo, por favor.
Ela
entrou, não me veja, não me veja, já estava vindo em minha direção. Não
há porta aqui atrás, não tem como correr, já está perto. E agora? Parou
em minha frente e sorriu.
Quanto tempo, tantos anos. Já
sentou. Tudo bem. Tudo ótimo. Ela vai de café também. Por que está aqui?
Emprego novo. Está noiva. Que ótimo. Aquele cara da escola. Já apanhei
dele. Odeio ele. Parou de fumar. Está magra. Não quero falar sobre mim.
Não pergunta. Ela insiste. Deixa pra lá. Não há nada para falar. Devo
ir. Adeus. Não quero voltar a te ver.
Uma vodca. Um gole, dois
goles. Mais uma, por favor. Virei tudo. Tanto tempo que vivi de
saudade. E agora? Virei outra. Decepção. Ela me viu acabado. Quero
outra. Vou embora. Está chovendo. Uma tempestade. Parece comigo por
dentro. Vou ficar mais um pouco. Outro gole.
Ela não me quis
mais. Aquele fim. Faz tanto tempo. Outra vodca. Obrigado. Bebi saudade à
espera dela. Ela nunca voltou. Está feliz. Eu nem tanto. Um gole. E
adormeci.
Mini-conto
Acordei me lembrando da noite passada. Fui a um bar/lanchonete após o trabalho. Era para relaxar e tomar um café.
Não tardou alguém entrar pela porta: era ela, estava mais magra, bela como sempre. Me viu e veio correndo se sentar.
Falou sobre sua vida, não falei quase nada sobre a minha. Coincidência ela estar noiva de um carinha da escola que eu odiava.
Ela
se foi embora feliz, e eu fiquei, fiquei lá bebendo enquanto chovia.
Uma decepção encontrá-la tão bem depois de me deixar. E assim adormeci,
relembrando a noite anterior.
Micro-conto
Encontro com a saudade no bar.
Samira Esteter
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