domingo, 18 de outubro de 2015



Fotografias da vida (O sapatinho)
O conto 
Ela está toda arrumada,  esta toda enfeitada, vestido novo, laço de fita na cabeça e uma leve maquiagem no rosto. Mas faltava alguma coisa. Olhou para um lado, olhou para o outro, olhou sua cama toda bagunçada com aquele monte de roupa sobre a cama e deu um leve sorriso. Balançou a cabeça, lembrando-se do evento daquela noite. Era algo especial, afinal era a festa de entrega do diploma do ginásio e todo mundo do colégio estaria lá, inclusive seus amigos. Então mais uma vez se olhou no espelho se examinou com extrema atenção. Ficou analisando se faltava alguma coisa. Então disse para si mesma: “chega Alice, você vai arrasar e hoje que o Fabinho te pede em namoro! E a Maria Eunice vai morrer de inveja!” Logo depois, voltou a procurar o que estava procurando: um sapatinho dado  por sua avó Ana. As duas tinham uma forte relação e eram grandes amigas. Foi então que ela lembrou onde tinha guardado a caixa de sapatos. Estava na parte inferior de seu guarda roupa.  Alice foi pegá-los, mas percebeu que eles estavam apertados em seus pés. E agora? O que fazer? Em suas indagações, Alice pensava: era um presente de sua avó Ana, que era sua melhor amiga da qual ela partilhava todos os seus sonhos, medos e segredos, e o sapato era bonitinho, combina com aquele vestido e era o toque final para o seu visual, mas era apertado e poderia causar bolhas em seu calcanhar. O que fazer? Ela respirou fundo e... Decidiu. Se para trilhar o caminho da glória fosse necessário alguns sacrifícios, martírios,  que pagasse o preço que tivesse que pagar. Então sapatinho, é eu e você, você eu, nessa noite gloriosa, esplendorosa. Há há há . Não vai ter para ninguém. E deitou o corpo na cama em uma gargalhada gostosa. Então olhou para o relógio e viu que a hora estava passando, precisava estar pronta. Pegou sua bolsa, colocou o papel com as palavras que escreveu para dizer na hora de receber o diploma e deu uma última olhada no espelho. E disse: “você é demais”. E saiu apagando as luzes, fechando a porta do quarto. Afinal aquela seria uma noite de extraordinários acontecimentos.

Mini-conto
Ela estava ansiosa quando chegou para se despedir dos seus pais, afinal não queria que nada desse errado. E logo após combinar a qual hora eles voltariam para buscá-la, esperou por um minuto até o momento que eles entrassem no carro. Deu um longo suspiro e se virou a caminhar com uma planejada elegância. Ao entrar, se deslumbrou com toda a organização, com todos os enfeites daquele salão e concluiu que estava digno de uma noite de gala. E de fato todos estavam lá, seus amigos, admiradores, desafetos e pretendentes. E sem faltar também eles, os sapatinhos: o maior símbolo de toda aquela elegância. Mesmo apertados, eles estavam lá, cumprindo o seu papel, onde mais tarde haveria o seu verdadeiro encontro inevitável, com as bolhas e as fotografias.

   Micro-conto
A festa ia noite a fora ao som de Whisky a Go Go – a banda tocava com empolgação e ela se sentindo toda elegante, atraente, arrasando. Mas no rosto, um olhar vacilante, refletindo um  falso contente. Ah aqueles sapatos lindos, mas tão apertados!


Anderson da Silva Oliveira

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