quarta-feira, 21 de outubro de 2015


Ode ao menino Aylan Kurdi e a La Fontaine

Crise, crise, crise, crise.
Inflação, corrupção, desemprego,
Imigração, seca, inundação,
Explosão, assalto, bomba,
Destruição, poluição, lixão,
Terremoto, extermínio, multa,
Enchente, manifestação, homicídio,
Refugiados, intolerância, desespero.
Deus, Deus, onde estás que não respondes?
E minha vida em nada mudou.
Tenho medo!
Meu corpo treme,
Não sou eu quem treme,
Não me pertenço.
Pertenço a uma nação.
Cidadão?
E minha vida em nada mudou.
Notícias, fotos, notícias, fotos, notícias, fotos...
Cadê a canoa que estava aqui?
A canoa virou por deixá-la virar...
Foi por causa do menino que não soube remar...
Cadê o menino?
Se afogou no mar.
Cadê o seu povo?
Fugiu do lugar.
E minha vida em nada mudou.
Meu corpo treme,
Não sou eu quem treme.
Não me pertenço.
Oh, La Fontaine! Você que é mais forte que o sol
Que derrete a neve,
Mais forte que todos os muros
E todos os mares,
Mais forte que o rato
Que rói o homem e seus dólares,
Mais forte que o leão e a instituição,
Que a coruja, a cigarra e a formiga,
Mais forte que o vento e a morte
E não escreveu esta história.
Desprende o meu pezinho?

Maricy Montenegro, setembro 2015



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